Como eu sempre falo, Tokusatsu é o gênero que mais sofre preconceito, e quando você pergunta se alguém conhece, todos falam sobre heróis coloridos que pilotam robôs gigantes, ou caras de armaduras que lutam em pedreiras, alienígenas gigantes, etc e tal. Até que não teria problema, já que essas são as descrições das franquias mais famosas, mas isso ajuda a disseminar um certo preconceito, já que as pessoas acham que é só isso, o que não é bem verdade.
Tempos atrás, eu escrevi um texto sobre uma série chamada Daimajin Kanon, que mesmo preservando alguns elementos característicos do gênero, trazia algo completamente novo e fora da caixa, pelo menos para nós ocidentais. Hoje eu trago outra série que também foge do que nós entendemos como Tokusatsu, Shibuya 15.
Sim, não tem como não traçar um paralelo com Matrix, mas ao invés da rebelião das máquinas, temos guerra de gangues. A trama se passa em uma Shibuya virtual, onde três gangues dominam um espaço, sendo elas os Bunkamus, que tem um estilo que mescla skate com Hip-hop, as Lovegen, ou gangue das garotas e os Palhands, que são o maior grupo entre esses três.
Não podemos esquecer do vilão, um cara chamado Peace, que caça aqueles que são mais encrenqueiros. O interessante desse personagem é que ele não é uma única pessoa, e sim, uma incorporação que transforma qualquer um no "anjo ceifador", com um discurso pré-preparado, onde ele termina com "Itekimasu", esperando a vítima responder "Iterasshai", para aplicar o golpe final.
Em contrapartida, Ema, uma moça que não tem filiação com nenhuma das gangues, e que usa uma armadura com capacidade de transformar seus membros em armas (desde lâminas a canhões), sempre aparece para derrotar Peace.
Tudo começa quando um garoto acorda em um beco sem memória de nada. Os Palhands o acham e dizem que ele é um empregado chamado Shouta. Ema aparece e diz que ele voltou por ela, mas o menino não lembra de nada. Posteriormente, ele lembra que seu verdadeiro nome é Tsuyoshi (coisa que leva uns três episódios).
No final, descobrimos que aquela cidade é uma prisão virtual, onde jovens problemáticos foram aprisionados. Nessa simulação, as atitudes imprudentes deles podem ser revertidas, por isso Peace mata aqueles que saem da linha, para que a personalidade sofra um reboot, e a pessoa possa ser mais comportada do que antes. Ema recebe esse "upgrade" de alguém que podemos chamar de Hacker, pois ele não concordava com esse tipo de justiça. O motivo dela caçar o Peace, era que ele matava todas as pessoas que se aproximavam dela, deixando ela sempre sozinha.
Fora da caixa, e Põe fora da caixinha nisso
Apesar de ter o elemento clássico do herói (nesse caso, heroína) de armadura que derrota o vilão, os episódios giram mais em torno do mistério, como "Porque eles não conseguem sair de Shibuya", ou "quem é Peace e Ema?", "Como eles foram parar ali?", entre outras coisas. O mistério poderia ter ficado melhor se o narrador da abertura não dissesse que aquela Shibuya é um mundo virtual, já que isso nos daria a oportunidade de teorizar sobre qualquer coisa, até mesmo sobre um além-vida no universo da série.
Além disso, fiquei pensando em como os elementos corriqueiros de tokusatsu ainda estão lá. Temos a heroína que usa uma armadura para lutar contra um enviado de uma organização misteriosa, a transformação cheia de luzes, entre outras coisas que também lotaram as produções da época. Só que temos algo muito mais puxado para o jogo Bayonetta do que para a armadura do Jaspion.
Enfim, Shibuya 15 é aquela série que trava a sua cabeça a cada episódio que passa, e pode esquecer faíscas e explosões, o negócio aqui é sangue na cara. Assim como Daimajin Kanon, essa série mostra que Tokusatsu é mais do que heróis coloridos com robôs gigantes.
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